8 filmes para debater gênero e sexualidades nas escolas

Em 8 de fevereiro de 2021

8 filmes para debater gênero e sexualidades nas escolas

Cinema, gênero e sexualidades nas escolas

O uso de filmes como recursos pedagógicos permite que professoras e professores explorem conteúdos de diversos componentes curriculares de forma interdisciplinar, debatendo e vivenciando temas importantes de maneira particularmente interessante para as(os) estudantes.

O trabalho da professora Dayanna Louise, de Pernambuco, trilha esse caminho, levando os temas de gênero e sexualidades para as escolas por meio de produções do cinema pernambucano e de outras regiões do Brasil.

Formada em História, especializada em história do Nordeste, e bacharela em Serviço Social, Dayanna compõe o Andanças – Mostra de Cinema de Gênero e de Diversidade. Trata-se de um projeto promovido pela Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE), por meio da Gerência de Educação Inclusiva e Direitos Humanos (GEIDH), que tem como objetivo democratizar o cinema e os debates sobre gênero e sexualidades com exibições e oficinas de cinema itinerantes pelo estado pernambucano.

Acompanhe

A professora Dayanna reuniu uma lista com 8 documentários curtas-metragens que focam nas questões de gênero e sexualidades e conversou sobre o assunto com o Futura.

 

1. Palloma

“Do diretor William Tenório, apresenta a trajetória de Palloma, uma mulher trans, sertaneja, na luta pelo reconhecimento identitário de forma respeitosa, no sertão do Pajeú”.

 

2. Maria Clara

O vídeo faz parte do projeto Mulheres: o nascer é comprido, exposição de Chico Ludermir, com curadoria de Moacir do Anjos, realizado pela Fundação Joaquim Nabuco. Na série, mulheres trans lêem um livro sobre suas vidas. Maria Clara Sena, atualmente integrante do projeto da ONU de combate à tortura e vencedora do prêmio Claudia Mulher na categoria políticas públicas, apresenta um pouco de si.

 

3. Somos

“Este documentário foi produzido pela Escola de Referência de Ensino Médio de Bezerros, situada no agreste pernambucano, por meio do trabalho realizado na oficina Documentando, de Marlom Meirelles“.

 

4. O dia é transparente

Colocando em pauta a ociosidade de espaços públicos, o documentário registra a ocupação por moradia do Edifício SulAmérica, situado no bairro de Santo Antônio, área central de Recife. O dia a dia da Ocupação Marielle Franco é revelado, identificando a presença majoritária de mulheres e crianças.

 

5. Sapacrew

O curta aborda a vida de 3 mulheres lésbicas no cenário do Hip hop pernambucano. Na contramão do machismo, elas compartilham seus históricos de resistência.

 

6. Mãe Dorinha

O bairro dos Coelhos é palco de muitas histórias que permeiam o dia a dia do centro de Recife. Dentre as inúmeras personalidades do bairro, está Dorinha: travesti, periférica e mãe de santo. O documentário procura mostrar as particularidades da personagem, explorando o seu processo de construção enquanto travesti, a relação com o candomblé e sua interação com a comunidade.

 

7. Desyrrê

Ser um corpo dissidente, um corpo marcado por territórios minados no Oásis do Sertão, significa lutar diariamente por reconhecimento e visibilidade. Desyrrê vivencia esse resistir e persistir em sua trajetória.

 

8. Depois da tempestade – a LGBTfobia na escola

“Abrindo para outros estados, esta é uma produção do Paraná, do diretor Bruno Nomura. Um documentário sobre gênero, sexualidades e educação”.

 

Futura: Como o projeto Andanças começou?

Professora Dayanna Louise: O projeto começou em 2018, pensado a partir da lei 13006, conhecida como “Lei do Cinema”, que torna obrigatória a exibição, nas escolas, de filmes produzidos no Brasil por pelo menos 2 horas por mês. Naquele ano, o projeto-piloto atendeu 30 escolas das 4 regiões pernambucanas: Sertão, Agreste, Zona da mata e Região Metropolitana de Recife. A ideia inicial foi levar documentários curtas-metragens produzidos no estado para exibições nas escolas, com a participação das diretoras e diretores dos filmes nas ações com os estudantes.

Futura: Como foi o contato das(os) estudantes com as pessoas que produziram os filmes?

Dayanna: Foi por esses encontros que pudemos realizar oficinas de autorretrato, cordel, topografia e cinema de bolso. No ano seguinte, em 2019, o projeto cresceu, recebendo inscrições de mais de 200 escolas. O interesse da rede de ensino por gênero, sexualidades e cinema ficou evidente pra gente. Nesse momento, foi criada a Unidade de Educação para as Relações de Gênero e Sexualidades, que coordeno.

Levamos as atividades e exibições a mais pessoas: escolas de assentamentos do Movimento Sem Terra e unidades de atendimento socioeducativo, por exemplo. O público, em 2019, foi muito diverso, o que foi ótimo.

Futura: A chegada da pandemia de coronavírus certamente impactou o projeto. Como foi?

Dayanna: Em 2020, tivemos de interromper o caráter itinerante do Andanças, devido ao necessário distanciamento social. O desafio de termos uma alternativa que fosse factível remotamente nos levou a criar um curso de produção de documentários feitos por celular, destinado às estudantes.

“Embalado pelo pensamento feminista negro de Bell Hooks, o Andanças se contrapõe a esse modelo de educação bancária, compreendendo a educação enquanto prática de liberdade capaz de transgredir as fronteiras raciais, sexuais e de classe. É preciso sair do lugar”

Futura: Como cidadã e professora trans, como você avalia o impacto do trabalho sobre gênero e sexualidades por meio de filmes nas escolas e em unidades de atendimento socioeducativo?

Dayanna: Cotidianamente, diversos sujeitos têm suas trajetórias educacionais comprometidas em decorrência das desigualdades, discriminações e violências que estimulam o baixo desempenho escolar e aumento na taxa de evasão. Considerando o potencial do cinema em ofertar ricas experiências, o imaginário e conhecimento de mundo destes sujeitos puderam se ressignificar ao acessar, de forma lúdica e afetiva, a questões como respeito, liberdade, resistência e alteridade. Experiência tão rica, singular e necessária que em tempos de desmonte das políticas educacionais e da criminalização dos debates sobre gênero e sexualidades em sala de aula se torna extremamente necessária.

Não há como refletir sobre a violação destes corpos sem demarcar a importância dos processos educacionais no enfrentamento à violência de gênero e sexualidades, ainda mais quando o ambiente escolar também se configura enquanto espaço de opressões.

“A invisibilidade das minorias de direito no currículo escolar reproduz um olhar machista, racista, cisnormativo, heteronormativo, eurocêntrico e elitista, renegando outros lados de uma história. É preciso recontá-la”

 

Referência: Futura