Nova temporada de oficinas, comandada pelo cineasta Marlom Meirelles, está em andamento e vai até o final do ano
Na semana passada, o cineasta pernambucano Marlom Meirelles, nascido em Bezerros, no Agreste do Estado, esteve no Recife à frente de mais uma oficina do projeto Documentando, que está completando 10 anos em 2019. A partir de uma base na ONG Leões do Norte – uma organização que defende a causa LGBT –, na Boa Vista, Marlom e seus alunos chegaram até Mãe Dorinha, uma travesti Mãe de Santo do bairro dos Coelhos.
“Mãe Dorinha é uma sobrevivente. Várias amigas dela foram assassinadas, vítimas da violência. Mais velha, ela é uma referência nos Coelhos, onde batiza as travestis mais novas, dando-lhes seus novos nomes. O respeito por ela na comunidade é muito grande”, explica o cineasta, durante o intervalo de uma residência fotográfica com estudantes do Morro da Conceição, em Casa Amarela, no final da tarde da última sexta-feira (18/10).
“Realizar um filme sobre Mãe Dorinha tem muito a ver com o conceito do Documentando. Que é dar voz às minorias e ser uma ferramenta de empoderamento. Na arte do cartaz da temporada deste ano, temos uma mulher munida com uma câmera. A intenção foi mostrar que o cinema pode ser uma arma de reivindicação de direitos e transformação social”, afirma.
Em 10 anos, as oficinas do Documentando já formaram quase dois mil alunos. Em cinco temporadas, foram realizadas mais de 70 oficinas, que resultaram na produção de cerca de 100 documentários, realizados em praticamente todas as regiões do Estado.
“Esses números são bastante relevantes. São pessoas que acabam adentrando no setor audiovisual, através desse projeto de formação, que é introdutório, mas que resulta em ótimos produtos. A gente tem filmes que falam sobre nós mesmos, sobre os pernambucanos, com temáticas muitas vezes micro, em cidades pequenas, de 10/20 mil habitantes. São temas que provocam reflexões, que geram interesse em outros lugares. A prova é tanta que os filmes estão circulando por vários festivais, em todo o Brasil”, garante.
No ano passado, um dos filmes realizados durante uma oficina em Triunfo, no Sertão, teve uma carreira vencedora em vários festivais. O documentário coletivo Desyrrê, que tem como protagonista uma mulher trans, negra, periférica e sertaneja, vivendo numa pequena cidade do interior, mostra a sua resistência na luta contra o preconceito. No Recifest, o filme ganhou os prêmios de Melhor Curta Pernambucano pelo Júri Oficial, Melhor Curta Pernambucano pelo Júri Popular, Melhor Curta pela ABC-Apeci e Menção Honrosa como Filme para Reflexão pela Fepec (Federação Pernambucana de Cineclubes). Desyrrê também ganhou o prêmio de Melhor Filme da Mostra de Formação do Júri Oficial do Festcine. Na Mostra de Formação do Curta Taquary, recebeu o prêmio de Melhor Personagem. Já no Festival de Cinema de Triunfo, foi escolhido como o Melhor Filme dos Sertões.
“A experiência de produzir um filme como Desyrrê, que até agora está participando de festivais de cinema e sendo premiado, foi enriquecedora. Ainda mais por retratar uma protagonista tão especial. Hoje eu faço cinema, e a oficina contribuiu muito para que eu pudesse entender as formas que o documentário pode assumir. O Documentando contribuiu muito com a minha formação”, disse o cineasta Gabriel Coelho.
Até o final do ano, Marlom já tem mais seis encontros marcados com novos e futuros cineastas: serão duas oficinas no Recife e mais quatro nas cidades de Correntes, Bodocó, Itacuruba e Bezerros. Em cada cidade, Marlom recebe os alunos e discute com eles quais serão os temas tratados durante os dias da oficina.
“Nunca há um direcionamento de tema. Os estudantes ficam livres para trazerem reflexão sobre o universo deles. Eu sempre provoco para que eles pensem e repensem o mundo ao redor. O que é que intriga os meninos? Como eles veem o mundo? Que tipo de provocação é relevante de ser feita naquele momento? São algumas das coisas que eu levanto para que a gente possa chegar a uma ideia, que vira o roteiro e que depois passa a se transformar num filme”, aponta o cineasta.
Programação:
CORRENTES
De 21 a 25 de outubro
Das 14h às 18h
Na Casa das Juventudes (Rua Raimundo Camelo, 2-66, Correntes/PE)
BODOCÓ
De 4 a 8 de novembro
Das 14h às 18h
No Sesc Ler (Rua Luzia Couto Lóssio de Alencar, s/n; São Francisco – Bodocó/PE)
ITACURUBA
De 11 a 15 de novembro
Das 14h às 17h30
Junto ao povo originário Pankararu (Pankararu do Angico. Beira do Rio)
RECIFE
De 18 a 22 de novembro
Das 14h às 18h
Local a ser definido pela produção do Recifest – Festival da Diversidade Sexual e de Genêro
BEZERROS
De 25 a 29 de novembro
Das 14h às 18h
Na Escola Municipal Joaquim Claudino de Oliveira (Serra Negra)
RECIFE
De 9 a 14 de dezembro
Local a ser definido pela Coordenadoria de Audiovisual da Secult/Fundarpe dentro da programação do Festcine – Festival de Curtas de Pernambuco.
Referência: Jornal do Comércio