Em sua quarta edição, a iniciativa, que conta com incentivo do Funcultura, vai percorrer 16 cidades pernambucanas
Possibilitar a construção de novas narrativas e a representação de realidades diversas. É com esse objetivo que o projeto Documentando inicia sua quarta edição em Iguaracy, na Mostra Pajeú de Cinema, entre os dias 7 e 11 de maio. Idealizada pelo cineasta Marlom Meirelles, a iniciativa conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura, e tem como objetivo promover a interiorização da produção audiovisual.
Neste ano, o projeto vai percorrer 16 cidades pernambucanas e em cada município o projeto tem como principal viés a inclusão de grupos socialmente vulneráveis. As oficinas são gratuitas e abordam as etapas que envolvem a produção de um filme (confira abaixo o calendário completo do projeto).
Criado em 2009, o Documentando tem contribuído para o fortalecimento da produção audiovisual independente no interior do Estado, iniciando novos produtores e ampliando as possibilidades de alcance de suas obras. “Quando decidi estudar cinema, em 2005, não havia projetos de iniciação audiovisual no interior de Pernambuco. Sou natural de Bezerros, no agreste, e vivenciei esta carência real”, lembra Marlom, que também é facilitador das oficinas.
Os participantes vão conhecer todo o processo de realização de um documentário e os elementos fundamentais para a construção de um roteiro, produção, captação e edição de um vídeo digital. Além de ampliar o repertório no campo do audiovisual e o acesso aos principais conceitos e vanguardas da história do cinema, os alunos são provocados a refletir sobre suas vivências e, a partir delas, pensar narrativas que contemplem questões sociais, de gênero, raça, territorialidade, identidade, entre outras. Cada oficina tem duração de 24 horas, distribuídas em uma semana, com encontros presenciais complementadas por atividades virtuais e videoaulas. Ao fim de cada oficina, os estudantes devem apresentar um documentário com duração de 5 a 10 minutos. A temática é livre e escolhida por meio de exercícios coletivos.
Do Recife ao Bodocó, passando pelo Sertão do Araripe, Agreste e Zona da Mata, o Documentando vai percorrer 16 municípios, alguns vão receber o projeto pela primeira vez como Lagoa do Carro, Iguaracy, Ingazeira, Orobó, Itacuruba e Nazaré da Mata. A convocatória para o preenchimento das vagas é feita por meio de parcerias com instituições das cidades. O público-alvo inclui indígenas, remanescentes de quilombolas, negros, alunos da rede pública de ensino, portadores de necessidades especiais e pessoas em situação de vulnerabilidade social. A novidade da edição deste ano é a realização de duas mostras gratuitas para a exibição de todas as obras desenvolvidas pelos participantes, uma no Recife e outra no interior. Os dois eventos contarão com tradução em libras.
“As oficinas são breves, mas conseguem apresentar um universo novo para os participantes. Um desdobramento comum é que ex-alunos do projeto se interessem ainda mais pela área e passem a investir na produção de conteúdo de maneira autoral ou em parceria com outros realizadores”, comenta Marlom. O cineasta desenvolveu e coordenou outros projetos de formação a exemplo do “Cabeça de Cinema”, que promoveu 12 cursos de iniciação audiovisual para estudantes da rede pública de ensino da Região Metropolitana do Recife, numa ação que integrou o projeto CineCabeça. Também idealizou e produziu o curso História do Cinema Pernambucano, resultado de uma densa pesquisa sobre os ciclos de cinema do Estado.
Poeta e escritor, David Henrique, de Belo Jardim, no Agreste, tem 22 anos e teve o primeiro contato com o audiovisual quando participou do projeto, em 2016. Foi o pontapé inicial para ele, que sempre se interessou pela linguagem e já cursava Comunicação Social. “Acredito que iniciativas de formação são importantes para a difusão do conhecimento, principalmente na área do cinema, que é uma linguagem pouco acessível para a população. Depois da oficina Documentando eu mergulhei nesse universo”, conta David, que já produziu os documentários “Ventre Morto”, que fala sobre a Barragem do Bitury, e “Pelos galhos da Jurema”, sobre a Jurema Sagrada.
Até agora, o Documentando já capacitou cerca de 1.000 pessoas. Este ano, serão mais 400. “A quarta temporada vem para dar continuidade a esta ação fomentadora, atendendo a um número mais expressivo de municípios e participantes”, comenta Marlom que comemora a parceria com entidades como as ONGs Mães pela Diversidade, que vai receber o projeto no mês de julho, e a Gestos, que presta assistência a soropositivos. Pela primeira vez, povos indígenas da Tribo Xucuru, de Pesqueira, e da Tribo Pankararu, de Itacuruba, estão no roteiro das oficinas. “Em um momento político onde os brasileiros vêm sofrendo com a perda de direitos, o Documentando se propõe a ser uma ferramenta de reivindicação e transformação social”, afirma o idealizador do projeto.
Referência: Portal Cultura PE